Enterro está marcado para sexta (7), no Cemitério São João Batista, no RJ.
A
esposa de Niemeyer, Vera Lúcia Niemeyer chega ao hospital após morte do
marido, o arquiteto Oscar Niemeyer
Amigos e familiares de Oscar Niemeyer realizam uma missa em homenagem
ao arquiteto na manhã desta quinta-feira (6) no Hospital Samaritano, em
Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro. Niemeyer morreu nesta quarta (5), aos 104 anos.
A neta do arquiteto Ana Lucia Niemeyer afirmou que, após a cerimônia, o
corpo será levado para o Aeroporto Santos Dumont, no Centro, para
embarcar em um voo fretado rumo a Brasília, onde será velado no Palácio do Planalto.
A missa é celebrada pelo padre Omar Raposo, que chegou por volta de
8h30 ao hospital. Segundo a assessoria da imprensa do Samaritano, a
saída do corpo para o aeroporto está prevista para as 11h.
Ana Lucia, neta do arquiteto, falou sobre o avô
A neta afirmou que o arquiteto deixa uma representação física e ideológica, que a Fundação Niemeyer vai tentar manter.
"Mais que a arquitetura, é o trabalho que ele fez pela democracia, o
trabalho social. Acho isso tão importante quanto a obra", diz a neta,
ressaltando que até o fim o avô pensava no trabalho. "Era tudo para
ele."
Para o também arquiteto Paulo Niemeyer, o bisavô deixa uma enorme lacuna, tanto na vida pessoal, quanto na profissional.
"Tudo que sei devo a ele. Meu avô ajudou a projetar o Brasil. Costumava
dizer que para militares ele era mais importante que o Pelé", disse o
bisneto, que disse pretender dar continuidade aos projetos que vinha
desenvolvendo ao lado do bisavô.
Enterro no Rio
O arquiteto, que completaria 105 anos no próximo dia 15, morreu às 21h55 desta quarta,
em decorrência de infecção respiratória. Ele estava internado no
Samaritano havia pouco mais de um mês. Após a morte, o corpo foi levado
para ser embalsamado na Santa Casa de Misericórdia de Inhaúma, no
subúrbio, de onde saiu por volta de 7h desta quinta, de volta ao
hospital.
Ainda nesta quinta, segundo o prefeito Eduardo Paes, o corpo retorna ao
Rio, à noite, onde ficará no Palácio da Cidade. O enterro está marcado
para sexta-feira (7), no Cemitério São João Batista, em Botafogo, no
Rio. A família ainda não divulgou o horário da cerimônia.
Horas após a confirmação da morte de Niemeyer, o prefeito foi ao
hospital para cumprimentar os parentes do arquiteto. Paes disse que o
último encontro com Niemeyer aconteceu há três meses.
“Perdemos um grande brasileiro. Ele acreditou até o fim nos seus
ideais. Jantei com ele há três meses e ele só falava de futuro”, disse.
Luto oficial
Paes decretou luto oficial de três dias, no Rio de Janeiro, após a
morte de Oscar Niemeyer. Em nota enviada, na noite desta quarta-feira
(5), ele lembrou as principais obras do aquiteto na cidade.
"Um dos maiores gênios que o Brasil deu ao mundo, Oscar Niemeyer foi
mais do que um arquiteto brilhante e inovador que desafiou a lógica e
contorceu as formas para criar verdadeiras obras de arte. Ele construiu
marcos e deixou a sua marca na paisagem e na história de nosso país.
Carioca, ele tinha com o Rio de Janeiro uma relação especial - Niemeyer
deu à Cidade Maravilhosa o templo da folia, onde a maior de todas as
festas acontece", diz a nota.
"Como prefeito do Rio, apaixonado por Carnaval e admirador do trabalho
de Niemeyer, sinto-me honrado por a cidade ter concluído o projeto
original do Sambódromo e, com isso, ter podido realizar o que o próprio
mestre chamou de um sonho antigo. O Brasil e o mundo perderam hoje um
homem que dedicou toda a sua vida a produzir beleza. Mas o que ele criou
ficará entre nós como a lembrança de um grande carioca que fez a
diferença", concluiu o prefeito em seu comunicado.
Novos projetos
O médico Fernando Gjorup disse, na noite desta quarta-feira (5), que
Oscar Niemeyer conversou com a equipe médica sobre a vontade de realizar
novos projetos, mesmo aos 104 anos.
Segundo Gjorup, o arquiteto só perdeu a consciência, pela manhã, após
ser sedado. O médico, que cuidou dele por 15 anos, revela que Niemeyer
pouco falava sobre a saúde.
“Antes dessa internação, ele chegou a conversar com a equipe sobre
novos projetos. Ele não gostava de falar sobre a saúde dele, mas sabia
que já tinha passado da metade da vida. Ele nunca falou sobre morte, só
falava em viver. A equipe médica tinha esperança, mas havia a
fragilidade de um senhor de 104 anos”, disse Gjorup, que cuidou do
arquiteto nos últimos 15 anos.
Segundo a equipe médica, o arquiteto apresentou piora progressiva nos
últimos dois dias. Cerca de 10 parentes estavam na Unidade Coronariana
do hospital, quando Niemeyer morreu.
O arquiteto era submetido à hemodiálise e seu estado imunológico já era deficiente.
Histórico de internações
O arquiteto foi internado várias vezes ao longo dos últimos anos. A
última foi em 2 de novembro, quando voltou ao Samaritano, seis dias
depois de ter recebido alta. Desta vez, Niemeyer foi submetido a
tratamento de hemodiálise e fisioterapia respiratória.
No dia 13 de outubro, o arquiteto deu entrada no Hospital Samaritano
após sentir-se mal, apresentando um quadro de desidratação. Ele ficou
internado por duas semanas.
Em maio, Niemeyer também esteve internado no mesmo hospital, quando deu
entrada com desidratação e pneumonia. Depois de 16 dias, com passagem
pela UTI, recebeu alta.
Em abril de 2011, o arquiteto ficou internado por 12 dias por causa de
uma infecção urinária. Também já foi submetido a cirurgias para a
retirada da vesícula e de um tumor no intestino.
Em 2010, Niemeyer também foi internado em abril, devido a uma infecção urinária.
Em 2009, o arquiteto ficou internado por 24 dias no Samaritano, entre
setembro e outubro, após dores abdominais. Ele chegou a passar por uma
cirurgia para retirar um tumor no intestino grosso, uma semana depois de
ter sido operado para a retirada de um cálculo na vesícula.
Em junho do mesmo ano, o arquiteto foi internado no hospital
Cardiotrauma de Ipanema, também na Zona Sul, queixando-se de dores
lombares. Ele passou por uma bateria de exames e recebeu alta médica
algumas horas depois. Na ocasião, exames de sangue e uma tomografia
indicaram que Niemeyer estava apenas com uma lombalgia.
Em 2006, o arquiteto chegou a ficar 11 dias internado, após sofrer uma queda e passar por uma cirurgia.
Filha do arquiteto morreu em junho
A designer Anna Maria Niemeyer, única filha de Oscar Niemeyer, morreu
aos 82 anos, em consequência de um enfisema pulmonar, em 6 de junho.
Segundo o administrador Carlos Oscar Niemeyer, filho de Anna, o avô
esteve pela última vez com sua mãe, três dias antes, durante uma visita
ao Hospital Samaritano, onde Anna Maria ficou mais de 40 dias internada.
Ainda de acordo com Carlos Oscar, durante o tratamento, Anna chegou a
receber alta, mas voltou a ser internada no dia 1º de junho. Ela teve
cinco filhos,13 netos e quatro bisnetos.
Carlos Oscar contou que sua mãe e o avô eram muito próximos e
costumavam se falar todos os dias. Ele disse que Niemeyer ficou muito
abalado ao receber a notícia da morte da única filha.
"O pai receber a notícia da morte de um filho é uma coisa extremamente
difícil, imagina para um pai de 104 anos, a situação é ainda mais
complicada", comentou Carlos, durante o sepultamento de Anna Maria
Niemeyer.
Oscar Niemeyer manifestou vontade de ir ao enterro da filha no
Cemitério São João Batista, em Botafogo. Mas, de acordo com os parentes,
ele não compareceu após os médicos avaliarem que as condições de saúde
do arquiteto não eram favoráveis.
Visita à Passarela do Samba
Em fevereiro, Niemeyer fez uma visita ao Sambódromo, durante a fase
final das obras de reforma da Passarela do Samba que mantiveram o
traçado original que o arquiteto projetou há 30 anos. Ele enfrentou o
sol forte de meio-dia e percorreu num carrinho aberto toda a extensão da
Avenida.
"Está muito bom. Melhorou muito. Este não é um trabalho só meu, é o
trabalho de um grupo. Estou entusiasmado", disse Niemeyer, na ocasião.
O projeto de Niemeyer previa um equilíbrio entre os dois lados da
Sapucaí, como se fosse um espelho. Com a obra, a Sapucaí passou a ter
12.500 lugares a mais, podendo acomodar 72.500 pessoas.
Trabalho em ateliê para festejar 104 anos
Autor de mais de 600 projetos arquitetônicos, Niemeyer decidiu festejar
os seus 104 anos do jeito que mais gostava: trabalhando em seu ateliê
de janelas amplas diante da Praia de Copacabana, na Zona Sul do Rio.
Em agosto de 2011, ele lançou o livro "As igrejas de Oscar Niemeyer"
(Editora Nosso Caminho), na galeria de um shopping da Zona Sul do Rio.
Embora ateu convicto, o arquiteto selecionou fotos e desenhos das 16
obras religiosas, entre capelas e igrejas, que realizou ao longo de sua
carreira.
"As pessoas se espantam pelo fato de, mesmo sendo comunista, me
interessar pelas igrejas. E a coisa é tão natural. Eu morava com meus
avós, que eram religiosos. Tinha até missa na minha casa. E eu fui
criado num clima assim. Esse passado junto da família me deixou com a
ideia de que os católicos são bons, que querem melhorar a vida e fazer
um mundo melhor", explicou Niemeyer, na ocasião.
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