Ex-secretário teve prisão determinada por Alexandre de Moraes por suposta omissão em relação ao ataque às sedes dos Poderes
O ex-ministro da Justiça Anderson Torres foi preso preventivamente pela Polícia Federal ao desembarcar, na manhã deste sábado (14), no aeroporto de Brasília vindo dos Estados Unidos. A prisão foi determinada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes em razão dos atos de vandalismo registrados em Brasília no último domingo (8) por manifestantes insatisfeitos com o resultado das eleições.
Anderson Torres desembarcou de um voo comercial de Miami pela porta traseira do avião, por volta das 7h20, de uma forma discreta. Ele passou por exame de corpo de delito — um médico-legista foi deslocado pela PF para realizar o procedimento.
Para despistar a imprensa, foram divulgadas informações diversas sobre o local em que o ex-ministro seria interrogado pela PF e onde seria mantido preso. Informações preliminares remetiam ao Complexo Penitenciário da Papuda, enquanto outras fontes informavam que ele estaria no Batalhão da Polícia Militar do Guará.
Depois de ser ouvido na Papuda, Torres deve passar por audiência de custódia no início da tarde e poderá ir para a Superintendência da PF ou ser encaminhado para o batalhão da PM dentro da Papuda.
Torres foi nomeado secretário de Segurança Pública do Distrito Federal pelo governador Ibaneis Rocha (MDB) ao deixar o governo federal. Ele foi ministro da Justiça do ex-presidente Jair Bolsonaro.
A prisão foi motivada por suposta omissão em relação aos atos de vandalismo que terminaram com a depredação das sedes dos Três Poderes da República. Na terça-feira (10), a Polícia Federal cumpriu mandado de busca e apreensão na casa de Torres, onde encontrou uma minuta (espécie de rascunho) de um decreto que tentaria mudar o resultado das eleições presidenciais de 2022.
Os atos de vandalismo na capital federal levaram ao afastamento do governador, à prisão do então comandate da PM, coronel Fábio Augusto, e à intervenção federal na Segurança Pública do DF.
Vândalos assinaram livro de visitas do Museu do Senado durante invasão
Na quarta-feira (11), o plenário do STF manteve a prisão de Anderson Torres por omissão nos atos de vandalismo praticados por extremistas em Brasília. Votaram pela manutenção da decisão de Moraes os ministros Gilmar Mendes, Edson Fachin, Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Luiz Fux, Ricardo Lewandowski, Rosa Weber e Luís Roberto Barroso.
Logo após a notícia do pedido de prisão, o ex-secretário afirmou nas redes sociais que havia tomado a decisão de interromper as férias e voltar ao Brasil para se entregar à Justiça.
Torres é advogado e delegado da Polícia Federal (PF), tem especialização em ciência policial, investigação criminal e inteligência estratégica pela Escola Superior de Guerra (ESG). Na PF, coordenou investigações voltadas ao combate ao crime organizado, na superintendência em Roraima.
No último dia 2, o ex-secretário reassumiu o comando da pasta e viajou de férias para os EUA poucos dias depois. Foi nomeado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro para o Ministério da Justiça em março de 2021. Em 31 de dezembro, último dia como ministro, Torres agradeceu ao ex-presidente pela "confiança" em nomeá-lo para gerenciar o ministério.
O interventor federal na Segurança no Governo do Distrito Federal, Ricardo Cappelli, sugeriu na terça-feira (10) eventual sabotagem por parte de Torres diante da invasão de extremistas às sedes dos Três Poderes, em Brasília, no último domingo (8).
Cappelli avalia que houve uma operação de segurança exemplar durante a posse de Lula, em 1º de janeiro. Uma semana depois, no entanto, ocorreram os atos de vandalismo que deixaram um rastro de destruição na capital federal.
Na sexta-feira (13), o governador afastado do DF, Ibaneis Rocha (MDB), prestou depoimento, de forma espontânea, na Polícia Federal. "Respondi a todos os questionamentos e espero ter deixado claro que não tive qualquer envolvimento, seja por ação ou por omissão, com os fatos ocorridos no domingo", declarou Ibaneis ao R7.
O governador também confirmou à reportagem que determinou a retirada dos manifestantes dos acampamentos em 29 de dezembro, mas foi impedido pelo Exército.
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