Vinicius Rodrigues, diretor de Comunicações da CBF, que ficou conhecido mundialmente ao atirar um gato no chão, na coletiva de Vinicius Junior, no Catar, foi demitido. Tite sairá oficialmente na terça-feira
Vinicius Rodrigues foi demitido ontem. Saída vai muito além dos maus-tratos ao gato no Catar
Reprodução/TwitterSão Paulo, Brasil
O episódio do gato, na entrevista coletiva de Vinicius Junior, em plena Copa do Mundo do Catar, com jornalistas do mundo todo, foi a gota de água.
Ao retirar o gato da mesa em que ele estava ao lado do jogador do Real Madrid e jogá-lo ao chão, de forma descuidada, o diretor de Comunicações da CBF chamou a atenção para ele.
Eu estava em Doha, na sala da coletiva, e percebi a desaprovação geral da imprensa, o clima ruim em relação à maneira como ele tratou o animal. A desaprovação generalizada.
Alguns jornalistas amigos ainda tentaram minimizar a atitude. Mas o vídeo, a imagem, ganhou o planeta.
A atitude aconteceu logo antes da partida contra a Croácia, que eliminou o Brasil da Copa do Mundo.
A demissão de Vinicius era certa.
E foi confirmada ontem.
Não foi devido ao gato, que alguns jornalistas gaiatos queriam batizar de 'hexa', por causa de a Seleção ter jogado fora a possibilidade de vencer a Copa do Mundo, com a mesma atitude do assessor.
Vinicius foi um ótimo profissional, mas representava uma postura que o presidente Ednaldo Rodrigues quer encerrar.
Rodrigues foi levado ao cargo pelo ex-presidente da CBF Marco Polo Del Nero. Era seu principal assessor na Federação Paulista de Futebol. Quando Del Nero estava para ser banido do futebol, ele esperava apoio da TV Globo, a principal parceira no mundo das comunicações.
Não teve. Pelo contrário, até. Foi atacado.
Como represália, Del Nero resolveu fechar o acesso da seleção à Globo. E também aos outros veículos de comunicação. Com a desculpa de que era um desejo dos jogadores. Era mesmo. Assim, a CBF TV passou a ter as entrevistas exclusivas e imagens que só ela possuía.
Vinicius acabou por encarnar essa represália.
Cumprindo ordens, ele já assumia para os jornalistas que as entrevistas exclusivas eram impossíveis nos períodos de treino, jogo e competição. Ele e o treinador definiam quem iria participar das coletivas. Muitas vezes reservas sem importância no contexto geral.
Daí uma das explicações para o afastamento dos jogadores da opinião pública.
Muitos dos que estavam na Copa do Catar eram completamente desconhecidos da população.
O assessor principal da seleção costuma cair quando um treinador vai embora. Como Tite ficou, mesmo fracassando, em 2018, na Rússia, Vinicius também ficou.
Del Nero já havia sido banido. Assim como Rogério Caboclo deixou a presidência, acusado de assédio sexual e moral. Ednaldo, conciliador, não quis entrar em conflito com Tite, demitindo Vinicius. Ele o segurou até o fim da participação do Brasil na Copa.
Mas resgatou um assessor com larga bagagem, uma estrela no meio. Foi assessor pessoal de Romário, Júnior, Renato Gaúcho, Edmundo. Mas foi com Ronaldo Fenômeno que ele ganhou espaço no mundo. Ele foi um dos responsáveis pelo fato de o atacante se tornar midiático no planeta.
Assumiu a CBF em 2002. Ficou até 2014. Voltou no ano passado, mas para assessorar apenas Ednaldo.
Cobriu a seleção brasileira desde 1991, e Rodrigues se mostrou o mais hábil dos assessores, nesses anos todos.
O clima na seleção na Copa do Catar já foi muito mais leve, com mais acesso aos jogadores, principalmente nas zonas mistas, depois das partidas. Ao contrário de 2018, a esmagadora maioria dava entrevistas. Ganhando ou perdendo.
Com o novo fracasso de Tite, o treinador não seguirá. E, por questões burocráticas, a CBF não demite ninguém em férias.
E a Comissão Técnica toda, inclusive o coordenador Juninho Paulista, será dispensada na terça-feira.
Vinicius Rodrigues voltou ontem.
E já foi um dos primeiros a ser demitidos.
Com ele saíram o outro auxiliar, Gregório Fernandes, e o fotógrafo Lucas Figueiredo.
A demissão oficial será na terça-feira. A saída, depois de dois fracassos em duas Copas seguidas
CBFEdnaldo busca, agora, um novo técnico na Europa.
Intermediários sondaram o português José Mourinho e o italiano Carlo Ancelotti.
As respostas foram "não".
Até devido à maleabilidade que o técnico precisa ter.
Para aceitar amistosos marcados por conta da rentabilidade.
E os privilégios a Neymar, o único jogador com enorme talento nesta geração.
Situação que Ednaldo promete rever.
Se não houver como contratar técnico do exterior, Ednaldo escolherá um do futebol brasileiro mesmo.
O mundo repercutiu a imagem do assessor e do gato
Reprodução/TwitterDorival Júnior ganha força. Apesar de Abel Ferreira ser o maior vencedor destes últimos anos. Há três problemas. O primeiro é ser português; o segundo, ser considerado defensivo. E o terceiro, ter personalidade muito forte para se submeter aos amistosos, a Neymar, ao calendário de preparação da seleção.
A saída de Vinicius Rodrigues significa o fim da influência direta da filosofia de Marco Polo Del Nero com a imprensa.
E que foi muito além do gato atirado no chão em Doha...
0 Comentários